Somos seres faltantes por natureza. O bebê que nasce não rasteja até o peito da mãe, ele precisa de alguém que lhe alimente e cuide, se não ele morre.
E daí em diante, sempre de alguma forma, eu vou precisar do outro. Tenho a língua materna, mas ainda preciso consultar a gramática. Preciso de um médico, sigo leis externas a mim, quero ser desejado pelo outro.
A lógica do consumo se aproveita dessa premissa, da nossa falta estrutural.
"Sempre nos falta algo, sempre pode ser melhor, sempre estamos ainda precisando de alguma coisa".
Se o discurso consumista sempre diz que eu preciso de mais, logo eu ocupo o lugar do menos. E é claro que o consumo oferece uma sensação de preenchimento momentâneo, um conforto, uma praticidade que eu nem sabia que era possível existir.
De uma realidade onde se lavavam roupas na pedra para então apenas apertar botões numa máquina. Muito bom.
Por outro lado, se telegramas demoravam meses para ser entregues e agora temos dispositivos pessoais de transmissão instantânea de mensagens e informações, para quem é adepto, uma existência sem um celular, smartfone, android ou iphone que seja, é da ordem da angústia. Difícil existir, ser sem celular.
O discurso consumista diz que eu posso chegar num patamar de "bem-estar", mas eu nunca chego lá.
Corro no trabalho, consigo minhas coisas no meu rítimo, mas quando acho que está bom, já está na hora de trocar de aparelho, atualizar a versão, pegar da nova tecnologia que é melhor e mais cara que a anterior. Por isso o consumo numa lógica consumista é tóxico por excelência. Porque eu sempre vou ocupar o lugar da falta e da insuficiência.
Mas é possível ser feliz numa sociedade de consumo?
Tecemos as críticas possíveis sobre a sociedade em que vivemos, mas ainda precisamos viver em sociedade. Não existe sociedade sem indivíduo e não existe indivíduo sem sociedade. Mesmo que viva em isolamento, isolar-se só é possível quando não se é isolado, então o ato de isolar-se ainda parte de uma experiência social.
Quais são as possibilidades nessa relação consumista? Consigo dizer do que eu preciso?
Ou é o outro que sabe o que é melhor pra mim? A sociedade que me orienta e diz o que fazer?
Estou bem comigo ou são os objetos que me deixam bem?
Meus objetos que definem quem eu sou?
Ter bons objetos me define uma pessoa feliz?