
Hoje em dia não é difícil esbarrar com receitas do tipo "Como se cuidar", "Como praticar a autoestima", "Como lidar com problemas" ou "Como evitar lidar com problemas desnecessários", "Como ter hábitos saudáveis", "Como ser feliz".
Já aconteceu de alguém te indicar uma "solução infalível", você tentar seguir essas dicas, elas não funcionarem com você e você ainda se sentir culpado?
"Não consigo gostar de nenhuma atividade física, não consigo fazer dieta, não consigo meditar, não consigo economizar, não consigo me controlar e lidar como essa pessoa se controla e lida!"
O que funciona pra uma pessoa nem sempre funciona para outra. Mas por que mesmo sabendo que não existe a tal receita da felicidade, nós ainda continuamos buscando uma?
Por vezes, em momentos onde "as coisas estão dando certo", até acreditamos encontrar uma forma de ser felizes. E tentamos transformar essa forma em receita. Mas o tempo passa, e começa a não dar mais certo. Acho que estou desmotivado ou não empenhado o suficiente.
"Ana Paula Arósio, uma grande atriz dos anos 90-00 desiste da carreira para viver reclusa."
"Marie Kondo, especialista em organização pessoal resolve deixar de organizar a própra casa para viver a maternidade."
O que podemos pensar disso?
Assim como algo que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra pessoa, aquilo que funcionava pra mim ontem pode não funcionar mais hoje, ou o que funciona hoje pode não funcionar mais amanhã. E isso não tem a ver com falta de empenho, mas de fato é um momento de desânimo.
A ditadura da felicidade não dá espaço para ficarmos mal, mas em algum momentos nós ficamos. E como não podemos, ficamos angustiados e adoecemos. E tanto adoecemos que corremos para os médicos em busca de algum alívio. E escutamos "é psicológico".
Como viver num ditadura da felicidade sabendo que não existe receita da felicidade?
Como ter acesso e recurso para lidar com nosso mal-estar num mundo que não oferece espaço para isso?
Como saber lidar com nossa infelicidade se sempre evitamos lidar com ela?
Como, a partir da nossa infelicidade, conseguir ser feliz da nossa forma sem seguir a forma do outro?